sábado, 2 de janeiro de 2010

Penso (escrevendo no ônibus)

Penso, acordo, penso
repenso
volto, olho, vejo
o imenso
que me engole, mastiga, digere
e é muito mais que penso
na carne
me venço
carrego, tropeço,
e quando escrevo
tudo já estava escrito em mim
nos meus gestos, nos meus dedos, sobrancelhas, cabelos, roupas, em tudo o que me ultrapassa, gritos, beijos

Pois amo no eterno
e nele me perco
mas mesmo perdido
escrevo
penso
sinto, vivo
derramo-me no mundo
que dentro de mim é fundo
no fundo da vida
vivida

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Olhe pra fora

Olhe na janela agora
Nem tudo é rosa
Nem tudo é cinza
Nem tudo é como você quer ver
Mas você sabe que há algo de bom
Perdido em algum lugar
Escondido em algum canto
Fora das nossas vistas
Fora do alcance do nosso olhar
Mas que está tão perto
Muito perto
Dos nossos corações
Olhe na janela agora
Veja tudo
E não veja nada

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O vão do mundo

Se tudo fosse do jeito que era pra ser
Quem sabe se ainda teria graça?
Ter tudo (ou não ter nada)
Pode ser desejável
Até mesmo utópico,
Mas não passa de irreal.
E na busca incessante pelo irreal,
Pelo ideal, pelo inalcançável
Esquece-se de buscar o real,
O errado e o palpável.
Esquece-se o que dá graça pra tudo,
Pra vida, pro mundo.
Então só desejo cair no vão
Entre dois universos tão distantes
E tão próximos.
Porque, se não dessa maneira,
Quem sabe se teria graça a vida
Ou se teria graça o mundo?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobriedade (às onze e meia da noite)

Ah se eu tivesse!
Sempre tivesse a sobriedade que neste momento tenho
Estaria sempre pronto
A consquistar tudo que na vida quero
Mas se a conquista, em tudo, fosse sóbria
Não seria conquista
Não seria tudo
Não seria vida

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Tua luz

O dia passou
Cravado como teu sorriso
Rasga a noite, o sentimento
Mas o ontem ainda é hoje

Meu amor não admite dúvida
Queima forte mesmo sem saber
Acorda cedo tua luz
Derrama você em mim
(como seus cabelos claros)

Eu preciso levar você
Para além dos caminhos
Por favor não se apague esta noite

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Desventuras

Ah, se quando sentisse isso pudesse me expressar...
Como seria bom! Poder me aventurar
A narrar as desventuras do meu coração
À procura do teu... Eterna procura.
E, quando se encontrassem,
Talvez conseguisse dizer o simples
Que de tão simples torna-se complicado
E leva ao silêncio, constrangedor.
Mas nenhum silêncio é eterno
E em algum momento será quebrado
Pela voz ressonante, apaixonada,
Do meu coração dizendo ao teu:
Eu te amo...

Objetivação (uma homenagem à poesia épica)

No mundo em que vivia
Ossos desmanchavam no ar
As ruas moviam-se como areia movediça
E a vida seguia por trás das vitrines
Mas precisávamos descobri-la
Em nosso pulso
Pulsando a cada minuto,
Como quando te vi
Naquele dia de vento

No mundo em que vivia
Homens viam o que queriam
Sem saber se o queriam
Seguiam demolindo pilastras tortas
Debatendo-se por Templos reerguidos
Mas não se olhavam nos olhos
Em meio aquela jornada sem fim,
Sempre atualizada
Pelas notícias dos jornais

No mundo em que vivia
Fossas nasciam das ruínas
Misérias erguiam palácios
Comi a minha comida em meio a massacres
Aquele que ria
Ainda não havia escutado as terríveis novidades
Ou as havia escutado no seu monstruoso deleite estético,
Repetido nesta temporada
Nas tardes do teatro do Leblon

No mundo em que vivia,
Sonhava com outro mundo
Amava em outro mundo
E quando encontrava aquele objetivado
Lutava com ele em meu corpo,
Rolando por minha vida
Penetrando à vontade nesse ato
Assim deslizava o tempo
Que sobre a Terra me foi dado